Comunicação e Educação: Diálogos com Paulo Freire para Pensar Cooperações Internacionais Decoloniais
DOI:
https://doi.org/10.53930/27892182.dialogos.5.54Palavras-chave:
Comunicação, Paulo Freire, Decolonialidade, Educação em Ciências, Cooperações internacionais, Efeitos de sentidos, MultilinguismoResumo
Ao refletirmos sobre o impacto de cooperações realizadas entre vários países e o Timor-Leste, concluímos que, muitas vezes, elas acabam estabelecendo uma relação comunicativa verticalizada. Particularmente, em se tratando de educação científica e tecnológica, as abordagens costumam ser realizadas como um monólogo de conhecimento, marcadamente eurocêntrico, em que o cotidiano e os saberes locais são silenciados, produzindo novas formas de colonialidade, epistemicídios, subalternidades, perda de identidade cultural, baixa autoestima, falta de pertencimento e dependência econômica. A partir dessa constatação, há que se discutir alternativas sistêmicas para a superação desse modelo de “inclusão global” que, mesmo que não seja conscientemente praticado por parte de muitos agentes diretos, promove desconstrução e imposição de uma monocultura do saber, que historicamente está associada à lógica da Apropriação e Violência no sul global. Com essa perspectiva em foco, discutimos possibilidades de alternativas aos efeitos de colonialidade para a construção de um diálogo de saberes que promova emancipação e uma cultura da paz. Nesse sentido, este artigo pretende aprofundar algumas questões sobre um projeto de internacionalização, financiado pela CAPES, o qual conta com a mobilidade internacional de professores e estudantes em vários países, projeto intitulado “Repositório de Práticas Interculturais: proposições para as pedagogias decoloniais”. A partir de reflexões surgidas nesse contexto, no presente texto realizamos algumas articulações entre as bases teóricas da crítica colonial e a perspectiva conceitual de comunicação de Paulo Freire. Os conceitos de colonialidade/decolonialidade também são importantes nesse aprofundamento, já que entendemos que o modelo dominante de educação em ciências pode estar contribuindo para reforçar as desigualdades sociais. Ao mesmo tempo propomos caminhos que busquem superar essas denúncias, o que inclui nosso trabalho em cooperações internacionais.
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